Noel acaba de ser encontrado sem vida, com um fio de Nylon em volta do pescoço, pendurado num galho de pinheiro. A polícia está investigando o caso, mas as evidências apontam para suicídio.
O símbolo máximo do Natal já vinha dando sinais de estresse e depressão há anos. Ele não se conformava com o papel que lhe haviam reservado, apesar de ter insistido sem descanso em apontar para os anjos, a manjedoura, José e Maria, o menino na palha e os pastores no campo. Ele não queria ser o principal motivo. Sempre havia sido um coadjuvante. Por que insistiam em colocá-lo no centro de tudo?
Todo aquele consumismo também o incomodava profundamente. O calor infernal, apesar do ar condicionado do shopping ligado no máximo, aquela roupa vermelha insana de inverno em pleno verão, aquela barba importuna e mal colada...
Ele não suportava mais aquelas enormes filas diante de si, em que pequenos ditadores –que ele tinha que tratar como criancinhas – disputavam espaço a tapa para puxar a sua barba e testar se era de verdade. Antigamente, os pais traziam seus filhos para que Noel lhes desse uma lição de vida e uma bela mensagem família. Estude mais! Obedeça seus pais! Não seja egoísta! Faça uma oração antes de dormir! ... Agora só queriam posar com ele na foto e fazer milhões de exigências hedonistas.
Noel também confidenciara que andava com insônia. Ele passava as noites fazendo mil planos de resgatar o verdadeiro espírito de Natal. Na hora de colocá-los em prática, porém, estava tão cansado e sonolento que a apatia e a indecisão o dominavam.
Tudo terminara ali, na ponta daquele galho de pinheiro... Antes, porém, o “bom velhinho” deixara uma última mensagem. Assoprou a vela, apagando a luz do Natal. Ela já não tinha mais o mesmo brilho de outrora e ninguém iria sentir a sua falta, ainda mais em meio a tanta parafernália luminosa comandada por computador. Se o Papai Noel jaz na ponta de um fio de Nylon por não conseguir resgatar o verdadeiro espírito natalino, aquela luz não tinha nenhuma razão de ser, afinal...
Texto de Clóvis Lindner.
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